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1/14/2011

Reflexões sobre o verdadeiro evangelho

Reflexões sobre o verdadeiro evangelho
"Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e
reto, temente a Deus e que se desviava do mal. Nasceram-lhe sete
filhos e três filhas.Possuía sete mil ovelhas, três mil camelos,
quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas; era também mui
numeroso o pessoal ao seu serviço, de maneira que este homem era o
maior de todos os do Oriente". Jó 1.1-3

Há dois evangelhos populares que concorrem nas igrejas com o evangelho
de Cristo: o evangelho da lei e o evangelho da prosperidade.

Paulo era um autêntico herdeiro da mensagem de Jesus e por isso
combatia os dois veementemente. Combateu o primeiro especialmente na
sua Carta aos Gálatas e na sua Carta aos Romanos, como Jesus o
combateu especialmente diante dos fariseus. Combateu o segundo
especialmente nas suas cartas aos coríntios, como Jesus o combateu
quando desafiou os ricos e a classe sacerdotal. O combate era interno,
isto é, dentro do povo de Deus, cada um citando as suas fontes
bíblicas, o que faz o combate complicado. A solução também não era
simples. Por isto temos as cartas densas que Paulo escreveu
detalhadamente. Mas o resumo da solução, a alternativa que Paulo
apresentou, pode ser dita em apenas quatro palavras: o evangelho da
cruz. Para Paulo, anunciar Cristo significava a adoção do evangelho da
cruz. Os outros evangelhos podem ser trabalhados a partir do Antigo
Testamento. É fácil fazê-lo e é frequente. Os escritores do Novo
Testamento, graças à liderança de Paulo que atribuia isto à revelação
de Deus e à inspiração pelo Espírito Santo, entenderam que a leitura
do Antigo Testamento que resulta ou no evangelho da lei ou no
evangelho da prosperidade, era equivocada. Isto é essecialmente o
assunto da Epístola aos Hebreus. Sua mensagem é que à luz de Cristo o
evangelho da lei e o evangelho da prosperidade não são propriamente
"cristãos" e por isso não podemos voltar para trás.

O Livro de Jó é talvez a maior correção ao evangelho da prosperidade
no Antigo Testamento, pois no fim, os advogados deste evangelho, os
"amigos" de Jó, são revelados como errados. O evangelho da
prosperidade funciona assim: se você for íntegro na sua caminhada com
Deus, prosperará. Terá a vitória. O inverso também é verdade: se não
prosperar é porque há algum pecado ainda na sua vida. Deve ter deixado
uma brecha para o diabo e está sofrendo as consequências. Este é
exatamente o "conselho" dos amigos de Jó e eles estavam tragicamente
errados.

Os primeiros versos do Livro de Jó preparam este cenário. Os múltiplos
de 10 (7 filhos mais 3 filhas = 10; 7.000 ovelhas mais 3.000 camelos =
10.000; 500 pares de bois mais 200 jumentas = 1.000) no mundo antigo
indicavam compleição e o superlativo no final apenas confirma este
indício: "era o maior de todos os do Oriente". E mais importante
ainda, era homem "'íntegro e reto". Logo será vitorioso?

Temos que admitir: todos nós (há realmente alguma exceção?) desejamos
sucesso. Todos queremos ter vitória. Todos nós desejamos prosperar. O
Livro de Jó redefine o conceito de bênção e prosperidade e esclarece
qual é o árduo caminho para a "vitória". Assim aponta na direção do
evangelho de Cristo que é o evangelho da cruz. Neste ano queremos
ouvir a voz de Deus a respeito disto para seremos verdadeiros
discípulos de Cristo e não meramente versões "cristãs" do sucesso e do
modelo que a nossa cultura consumista promove.

"Perguntou ainda o SENHOR a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque
ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a
Deus e que se desvia do mal. Então, respondeu Satanás ao SENHOR:
Porventura, Jó debalde teme a Deus? Acaso, não o cercaste com sebe, a
ele, a sua casa e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste, e
os seus bens se multiplicaram na terra. Estende, porém, a mão, e
toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua
face". Jó 1.8-11

A dificuldade maior de tratar tanto da teologia da prosperidade quanto
da teologia da lei (que mencionamos na primeira devocional) é que
ambas nasceram de Deus! E assim possuem certa razão. Digo "certa"
porque uma das características da revelação de Deus nas Escrituras que
praticamente todos os teólogos afirmam é a sua natureza progressiva.
Ou seja, uma leitura até superficial da Bíblia ilustra que Deus
raramente revela tudo duma só vez. Isto seria mecânico demais e
dispensaria o bom relacionamento que Deus quer que desenvolvamos com
ele. O princípio mais básico da revelação progressiva é que o Novo
Testamento interpreta o Velho. Por exemplo, as "bênçãos" que Deus
promete para o seu povo no Antigo Testamento para o cristão têm que
ser entendidas à luz da cruz e por consequente à luz de passagens como
Efésios 1.3-10 e Gálatas 3.28-29.

Na passagem acima, quando Satanás se apresenta diante de Deus, vemos a
razão porque a prosperidade absoluta, mesmo oriunda de Deus, poderá
não servir os propósitos de Deus e porque é necessário o
empobrecimento e o sofrimento na vida dos fiéis: para demonstrar que
os retos e íntegros temem a Deus pelo que Deus é e não pelo que têm
recebido em abundância de Deus.

O outro lado da moeda, e lição igualmente importante, é que o
empobrecimento e o sofrimento não constituem a vontade "perfeita" de
Deus para as nossas vidas, e sim, a sua vontade "permissiva". Deus
deseja, sim, nos abençoar mas permite dificuldades para criar em nós
caráter e amor genuínos e irrestritos, algo que dificilmente se cria
na abundância.

Mas, não nos esqueçamos do alvo de bênção maior que Deus nos dá e que
Paulo nos apresenta em Efésios 1.3-10.

* +Espiritualidade +Igreja e Liderança +Vida Cristã

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