Depois de um dia de caminhada pela mata, mestre e discípulo retornavam ao
casebre, seguindo por uma longa estrada.
Ao passarem próximo a uma moita de samambaia, ouviram um gemido.
Verificaram e descobriram, caído, um homem. Tinha sido ferido e já estava
próximo da inconsciência. Com muita dificuldade, mestre e discípulo
carregaram o homem para o casebre rústico, onde viviam. Lá trataram do
ferimento.
Um tempo depois, já restabelecido, o homem contou que havia sido assaltado e
que ao reagir fora ferido por uma faca. Disse também que conhecia seu
agressor, e que não descansaria enquanto não se vingasse.
Disposto a partir, o homem disse ao sábio:
- Senhor, muito lhe agradeço por ter salvado a minha vida. Tenho que partir
e levo comigo a gratidão por sua bondade. Vou ao encontro daquele que me
atacou e vou fazer com que ele sinta a mesma dor que senti.
O mestre olhou fixo para o homem e disse:
- Vá e faça o que deseja. Entretanto, devo informá-lo de que você me deve
três mil moedas de ouro, como pagamento pelo tratamento que lhe fiz.
O homem ficou assustado e disse:
- Senhor, é muito dinheiro. Sou um trabalhador e não tenho como lhe pagar
esse valor!
- Se não pode pagar pelo bem que recebeu, com que direito quer cobrar o mal
que lhe fizeram?
O homem ficou confuso e o mestre concluiu:
- Antes de cobrar alguma coisa, procure saber quanto você deve. Não faça
cobrança pelas coisas ruins que te aconteçam nesta vida, pois a vida pode
lhe cobrar tudo de bom que lhe ofereceu.
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