Constantemente eu me recordava das palavras do pastor: ‘Queremos agradecer-lhe por estar aqui. Mesmo que você não tivesse falado nem uma só palavra, só o fato de vê-lo já teria significado muito. Algumas vezes nos sentimos como se estivéssemos sozinhos em nossa luta’.
Eu nem conseguiria pregar um bom sermão, mas eu podia estar lá. E se estar lá era mais importante, eu decidi que a minha vida seria constituída de estar presente.
Mas, o que poderia fazer eu, uma pessoa só, sem fundos, sem patrocínio de alguma organização, contra uma força aparentemente invencível que parecia um gigante diante de mim? Como eu faria para consolidar qualquer coisa? Só Deus poderia fazer isso!
Voltei para casa, mas antes fui à Amsterdã visitar os Whetstra (um casal de irmãos que intercedia por mim e sempre me dava bons conselhos). Durante toda uma tarde contei-lhes como fora minha viagem e lhes falei, também, a respeito do versículo bíblico que me fora dado de forma tão estranha. Sobre como eu teria forças para fortalecer alguém.
‘E você não sabe que é exatamente quando estamos mais fracos que Deus pode nos usar melhor? Não é você, mas o Espírito Santo quem tem planos para o povo que vive detrás da ‘Cortina de Ferro’’ disse-me a Sra. Whetstra com uma convicção contagiante que me encheu de paz.
Não passara nem uma semana desde o meu retorno para casa, quando os convites para falar sobre a viagem começaram a chegar e eu aceitei a todos... todos queriam saber como era a vida atrás da ‘Cortina de Ferro’.
‘Você precisa viajar mais’, disse-me uma jovem líder da delegação holandesa em Varsóvia. ‘Você ainda não viu o suficiente, precisa conhecer mais da necessidade desses líderes, para falar mais. Estou encarregada de escolher 15 pessoas da Holanda para ir à Tchecoslováquia, você quer ir?’
Retive a respiração. Seria a mão de Deus? Seria aquela a porta que se abriria a seguir, no seu segundo plano para mim? Decidi colocar a questão mais uma vez diante dEle, pois novamente eu não tinha recursos financeiros para ir.
‘Se queres que eu vá, Senhor, tu precisarás suprir os meios’ orei de forma relâmpago. Respondi a ela que sentia muito, mas, eu não tinha possibilidades de fazer uma viagem dessas. Ela ficou me olhando e então me disse: ‘para você não haverá despesas’.
Assim começou a minha segunda viagem e, quatro semanas depois eu encontrei a resposta que buscava: Os cristãos tchecos precisavam de ajuda! Pois não havia Bíblias e nem hinários e o governo praticamente exercia controle total sobre a Igreja. Ser cristão era antipatriótico. Os cristãos eram demitidos de seus empregos, e sofriam humilhação. Não se podia usar a palavra ‘pregar’. ‘A gente precisa ser cuidadoso com as palavras, você pode nos trazer ‘saudações’ do Senhor’, disse-me Antonin, um jovem estudante de medicina que se tornou meu intérprete. Então, primeiro eu trouxe saudações da Holanda, depois do Ocidente e finalmente ‘saudações de Jesus Cristo’ à congregação.
Cada visita que fiz ali foi memorável, mas a última antes de voltar à Holanda foi inesquecível, pois, foi nela que recebi o cálice do sofrimento. ‘Bem, quero lhe dizer oficialmente, senhor, que não é mais bem-vindo aqui. Se tentar entrar neste país outra vez, vai descobrir isso por si mesmo. ’Disse-me um homem sinistro ao sair de um carro do governo que havia me seguido.
Lembrei-me do distintivo de lapela que recebi de Antonin. ‘Quando as pessoas perguntarem o que é isso, conte-lhes a nosso respeito, e faça-os lembrar de que somos parte do corpo e que estamos sofrendo dores; este é o símbolo da Igreja da Tchecoslováquia, significa o cálice do sofrimento.’
Se um membro sofre, todos sofrem com ele... pensei citando I Coríntios. O cálice do sofrimento era o símbolo de uma realidade da qual eu precisava participar. E agora, o que eu faria?"
. #BRASIL
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